segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O AMOR A DOIS


“O amor a dois só funciona se as individualidades se amarem
a elas próprias em primeiro lugar. 

E quem pensar o contrário ou é infeliz ou tem os dias contados
para ser solteiro outra vez. 

Existem três tipos de relacionamento a dois: 

1 - Cada um dos dois vive primeiro para o outro e só depois para
si mesmo, ou seja, o que interessa são as vontades do parceiro e
nunca as suas, o que torna as coisas esquisitas, pois nenhum vive
a sua verdade nem se respeita em momento algum, porque vivem
ambos com medo de se perder. Deve ser enfadonho e, muitas vezes,
confuso. É do gênero, eu quero uma coisa que não vou ter para dar
ao outro, no entanto vou receber algo parecido com aquilo que queria
mas não é bem a mesma coisa, o que é normal, pois mais ninguém
além de nós sabe o que nos cabe melhor e quando nos cabe bem. 

2 - As duas pessoas vivem em função da mesma. Pior ainda. É que
se no exemplo acima ainda existe alguma energia, embora desfasada, a
ser trocada de um para o outro, aqui nem isso. Uma das individualidades
é a sua prioridade e a outra abdica de ser quem é para que o outro seja
tudo e mais alguma coisa. É neste caso que nascem os manipuladores
e os permissivos. Convém realçar, também, que o amor não mora aqui,
pelo menos da parte da pessoa submissa. Ela, por muito que tente
agradar e fazer as vontades todas, não ama o parceiro. Ela vive, ou
sobrevive, é na dependência e com muito medo de o perder, e como tal,
faz tudo para que isso não aconteça. Só que vai acontecer. E vai doer
muito. Mas nada que não se mereça, não é? 

3 - E depois a única forma saudável de duas pessoas se relacionarem.
Lado a lado, sem dependências nem medos, e com um profundo
respeito pela nossa própria individualidade e pela individualidade
do outro. Esta é aliás a única via para uma família feliz e para se
dar origem a crianças bem-educadas, centradas no apreço pelas suas
oportunas vontades em detrimento dos devaneios dos outros. Quando
os pais se respeitam em primeiro lugar e, por conseguinte, partilham
esse mesmo respeito para com as vontades da pessoa que escolheram
para viver, é amor que estão a ensinar. E se há algo de que este mundo
precisa, é de gente que se ame e nos ensine a amar.” 

(Gustavo Santos, in 'Ama-te') 
[Life Coach, Portugal, n. 27 Mai 1977]

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