sexta-feira, 28 de junho de 2013

A FELICIDADE

A felicidade é um estado permanente que não parece ter sido feito,
aqui na terra, para o homem.
Na terra, tudo vive num fluxo contínuo que não permite que coisa
alguma assuma uma forma constante.
Tudo muda à nossa volta.
Nós próprios também mudamos e ninguém pode estar certo de amar
amanhã aquilo que hoje ama.
É por isso que todos os nossos projetos de felicidade nesta vida são
quimeras.
Aproveitemos a alegria do espírito quando a possuímos; evitemos
afastá-la por nossa culpa, mas não façamos projetos para a conservar,
porque esses projetos são meras loucuras.
Vi poucos homens felizes, talvez nenhum; mas vi muitas vezes
corações contentes e de todos os objetos que me impressionaram foi
esse o que mais me satisfez.
Creio que se trata de uma consequência natural do poder das sensações
sobre os meus sentimentos.
A felicidade não tem sinais exteriores; para a conhecer seria necessário
ler no coração do homem feliz; mas a alegria lê-se nos olhos, no porte,
no sotaque, no modo de andar, e parece comunicar-se a quem dela se
apercebe.
Existirá algum prazer mais doce do que ver um povo entregar-se à
alegria num dia festivo, e todos os corações desabrocharem aos raios
expansivos do prazer que passa, rápida mas intensamente, através das
nuvens da vida? 

(Jean-Jacques Rousseau, in 'Os Devaneios do Caminhante Solitário')
[França – 1712 // 1778 – Filósofo, Escritor]

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