segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A RACIONALIZAÇÃO DAS EMOÇÕES

“O ponto de vista feminino tem sido muito mais difícil de expressar
que o masculino.
Se assim me posso exprimir, o ponto de vista feminino não passa pela
racionalização por que o intelecto do homem faz passar os seus sentimentos.
A mulher pensa emocionalmente; a sua visão baseia-se na intuição.
Por exemplo, ela pode ter um sentimento em relação a qualquer coisa que
nem sequer é capaz de articular. 
A princípio, achei extremamente difícil descrever como me sentia.
Porém, se fazemos psicanálise, a questão é sempre: «Como é que se sentiu 
em relação a isso?» e não «O que é que pensou
E como muito frequentemente a mulher não deu o segundo passo, que é
explicar a sua intuição - por que passos lá chegou, o a-b-c daquilo - ela
não consegue ser tão articulada. 
Ora eu tentei fazer isso (quer tenha conseguido quer não), e, porque estava
a escrever um diário que pensava que ninguém leria, consegui anotar o que
sentia acerca das pessoas ou o que sentia acerca do que via sem o segundo
processo.
O segundo processo veio através da psicanálise, que era igualmente um
método de comunicar com o homem em termos de uma racionalização
das nossas emoções de modo que pareçam fazer sentido ao intelecto
masculino.
Por isso existe uma diferença, penso eu, que é muito profunda, mas que
está a começar a desaparecer.
Com efeito, penso que, quando a geração mais jovem passa por qualquer
experiência psicanalítica descobre que os sonhos dos homens e das
mulheres são os mesmos, o inconsciente é universal, e que  as coisas
brotam do sentimento e do instinto e não passaram pelo processo de
racionalização, e portanto este é um ponto de vista feminino.” 

(Anais Nin, in "Fala Uma Mulher")

Um comentário:

  1. VERA,

    absolutamente coerente e abundantes de lógicas consistentes este pedagógico e excelente texto.

    Se me permitisse uma divagação , esta de natureza sociológica,me atreveria tão somente em propor que o contemporâneo comportamento feminino fosse mais e plenamente calcado em uma identidade cultural feminina própria.

    O que eventualmente, temos visto por parte de uma minoria,é a repetição de atitudes que as mulheres sempre criticaram e com carradas de razões, nos homens.

    Um abração carioca.

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