segunda-feira, 27 de abril de 2015

A INFLUÊNCIA DAS ILUSÕES NAS NOSSAS VIDAS

“Traçar o papel das ilusões na gênese das opiniões e das crenças
seria refazer a história da humanidade.
Da infância à morte, a ilusão envolve-nos.
Só vivemos por ela e só ela desejamos.
Ilusões do amor, do ódio, da ambição, da glória, todas essas
várias formas de uma felicidade incessantemente esperada, mantêm
a nossa atividade.
Elas iludem-nos sobre os nossos sentimentos e sobre os sentimentos
alheios, velando-nos a dureza do destino. As ilusões intelectuais são
relativamente raras; as ilusões afetivas são quotidianas.
Crescem sempre porque persistimos em querer interpretar
racionalmente sentimentos muitas vezes ainda envoltos nas trevas
do inconsciente.
A ilusão afetiva persuade, por vezes, que entes e coisas nos aprazem,
quando, na realidade, nos são indiferentes. Faz também acreditar na
perpetuidade de sentimentos que a evolução da nossa personalidade
condena a desaparecer com a maior brevidade. 
Todas essas ilusões fazem viver e aformoseiam a estrada que conduz
ao eterno abismo. Não lamentemos que tão raramente sejam
submetidas à análise.
A razão só consegue dissolvê-las paralisando, ao mesmo tempo,
importantes móbeis de ação.
Para agir, cumpre não saber demasiado.
A vida é repleta de ilusões necessárias. 
Os motivos para não querer multiplicam-se com as discussões das
coisas do querer. Flutua-se então na incoerência e na hesitação.
«Tudo ver e tudo compreender», escrevia Mme. de Stael,
«é uma grande razão de incerteza».
Uma inteligência que possui o poder atribuído aos deuses de abranger,
num golpe de vista, o presente e o futuro, a nada mais se interessaria
e os seus móbeis de ação ficariam paralisados para sempre. 
Assim considerada, a ilusão aparece como o verdadeiro sustentáculo
da existência dos indivíduos e dos povos, o único com que se possa
sempre contar.
Os livros de filosofia esquecem-no por vezes.” 

(Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças')
[Psicólogo/Sociólogo, França, 7 Mai 1841 // 13 Dez 1931]

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