quarta-feira, 15 de julho de 2015

A TRISTEZA PERMITIDA

“Ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria,
é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora
busca o silêncio e a solidão.
Estar triste não é estar deprimido. 
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa.
Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém,
com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas
repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão
aparente – as razões têm essa mania de serem discretas. 
Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato.
Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la,
sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir,
de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba
e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais.
Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas
melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for.
Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite
estar alguns degraus abaixo da euforia. 
Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e
sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta,
anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima,
normais que somos.”

(Martha Medeiros)
[Jornalista/Escritora, Brasil, n. 20 Ago 1961]

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