domingo, 26 de julho de 2015

RESPEITO MUITO O HOMEM QUE CHORA

“Há um tipo de choro bom e há outro ruim.
O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e, no entanto,
não dão alívio. Só esgotam e exaurem.
Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro como o de
uma criança com a angústia da fome. Era.
Quando se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se:
não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar.
É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de
empalidecer. 
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte.
Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves,
de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar
e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido,
produto de nossa dor mais profunda. 
Homem chorar comove.
Ele, o lutador, reconheceu sua luta às vezes inútil.
Respeito muito o homem que chora. Eu já vi homem chorar.” 

(Clarice Lispector, in Crônicas no 'Jornal do Brasil 1967') 

Ao homem a sociedade atribui o papel de solucionador de problemas.
Em todas as situações, as mais diversas, é a ele pedido forças,
respostas e resoluções.
Sua sensibilidade deve ficar abafada ou camuflada por ser ele homem.
E, ele passa a se ver dentro desta cobrança: “Homem não chora”.
Mas, como todo ser humano, em um momento de um mal maior, que
exceda suas forças, revele sua impotência diante do ocorrido, sua
fragilidade vem à tona e é exposta.
Como seu último recurso só lhe resta chorar. É seu direito pela
dor profunda.
Homem também chora e deve ser respeitado em sua sensibilidade.

Só não podemos chorar sem aprender; vale para todos nós.
A sabedoria de um ser humano está em usar seu sofrimento como
base de aprendizado para sua maturidade.


Vera Z Albuquerque

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