“Não faço visitas, nem ando em sociedade alguma - nem de salas,
nem de cafés.
Fazê-lo seria sacrificar a minha unidade interior, entregar-me a
conversas inúteis, furtar tempo senão aos meus raciocínios e aos
meus projetos, pelo menos aos meus sonhos, que sempre são mais
belos que a conversa alheia.
Devo-me a humanidade futura.
Quanto me desperdiçar desperdiço do divino patrimônio possível
dos homens de amanhã; diminuo-lhes a felicidade que lhes posso
dar e diminuo-me a mim próprio, não só aos meus olhos reais, mas
aos olhos possíveis de Deus.
Isto pode não ser assim, mas sinto que é meu dever crê-lo.”
(Fernando Pessoa, 'Inéditos')
[Poeta, Portugal, 13 Jun 1888 // 30 Nov 1935]
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