domingo, 19 de março de 2017

DESTINO, ACASO OU COINCIDÊNCIA

“Podemos muito bem, se for esse o nosso desejo, vaguear sem destino
pelo vasto mundo do acaso. Que é como quem diz, sem raízes, exatamente
da mesma maneira que a semente alada de certas plantas esvoaça ao sabor
da brisa primaveril. 
E, contudo, não faltará ao mesmo tempo quem negue a existência daquilo
a que se convencionou chamar o destino. O que está feito, feito está, o que
tem que ser tem muita força e por aí fora. Por outras palavras, quer queiramos
quer não, a nossa existência resume-se a uma sucessão de instantes passageiros
aprisionados entre o «tudo» que ficou para trás e o «nada» que temos pela
frente. Decididamente, neste mundo não há lugar para as coincidências
nem para as probabilidades. 
Na verdade, porém, não se pode dizer que entre esses dois pontos de vista
exista uma grande diferença. O que se passa - como, de resto, em qualquer
confronto de opiniões - é o mesmo que sucede com certos pratos culinários:
são conhecidos por nomes diferentes mas, na prática, o resultado não varia.” 

(Haruki Murakami, in 'Em Busca do Carneiro Selvagem')
[Escritor, Japão, n. 12 Jan 1949]

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