segunda-feira, 22 de maio de 2017

A DISPUTA DAS IDEIAS

“Temos cada vez mais tipos de ordem e cada vez menos ordem.
Depois de todos os esforços do passado, entramos num período de retrocesso.
Vê bem como as coisas se passam hoje: quando um homem importante lança
uma nova ideia no mundo, ela é imediatamente apanhada por um mecanismo
de divisão, constituído por simpatia e repulsa.
Primeiro vêm os admiradores e arrancam grandes bocados, os que lhes
convêm, a essa ideia, e despedaçam o mestre como as raposas a presa; a
seguir, os adversários destroem as partes fracas, e em pouco tempo o que
resta de um grande feito mais não é do que uma reserva de aforismos de que
amigos e inimigos se servem a seu bel-prazer.
O resultado é uma ambiguidade generalizada.
Não há Sim a que se não junte um Não.
Podes fazer o que quiseres, que encontras sempre vinte das mais belas
ideias a favor e, se quiseres, vinte que são contra.
Quase somos levados a acreditar que é como no amor e no ódio, ou na
fome, em que os gostos têm de ser diferentes, para que cada um fique
com o seu bocado.” 

(Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades') 
[Escritor, Austria, 6 Nov 1880 // 15 Abr 1942]

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