quarta-feira, 10 de julho de 2013

O NOSSO DESEJO DE LIBERDADE NÃO É SINCERO

Se estamos todos muito bem preparados para reclamar liberdade para
nós próprios, menos dispostos parecemos para reclamar sobretudo
liberdade para os outros ou para lhes conceder a liberdade que está em
nosso próprio poder; se conhecêssemos melhor a máquina do mundo,
talvez descobríssemos que muita tirania se estabelece fora de nós como
se fosse a projeção ou como sendo realmente a projeção das linhas
autocráticas que temos dentro de nós; primeiro oprimimos, depois nos
oprimem; no fundo, quase sempre nos queixamos dos ditadores que nós
mesmos somos para os outros; e até para nós próprios, reprimindo todas
as tendências que nos parecem pouco sociais ou pouco lucrativas,
desejando muito que os outros nos vejam como simples, bem ajustados,
facilmente etiquetáveis. 

(Agostinho da Silva, in 'Sobre as Escolhas')
Portugal – 1906 // 1996 – Filósofo/Poeta/Ensaísta

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