quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

APRENDER A CEDER

Aos sonhos, como aos pesadelos, chega sempre a hora de acordar.
É essencial compreender a realidade, viver de olhos abertos,
acolher a simplicidade da vida antes de querer resolver a
complexidade do mundo. 
Cada um de nós tem o seu lugar no mundo, talvez a ninguém
caiba o do centro. Nas nossas relações com o mundo, com os
outros e conosco, é mais sábio aceitar do que impor, admirar
do que exibir, amar do que procurar ser amado... 
Viver é aprender a ceder. A libertarmo-nos de nós mesmos.
Só o nosso espírito nos pode soltar porque só ele nos aprisiona.
Ser autenticamente feliz depende de uma transformação na forma
de olharmos o mundo, aceitando-o sem grandes condições e agindo
sem precipitações. Cedendo. Cedendo, sempre. Pois que é melhor
manter um amigo do que ficar com a razão, mas sozinho. Há que
abrir espaços em nós para que a serenidade que assim se alcança
convide a felicidade a fazer do nosso espírito morada sua. 
A humildade e a simplicidade são formas de ser, não de parecer. 
Um erro comum é querer ser tudo já. Nunca nada chega... e são
tantas vezes as saudades a revelarem-nos o verdadeiro valor dos
instantes vividos mas já passados. As pressas atropelam o tempo. 
Importa não cair na tentação de querer ser senhor do próprio
futuro... e aprender a confiar mais. Cedendo espaço à esperança.
Afinal, quantas vezes uma tragédia, decepção, desilusão ou uma
simples despedida, ao invés de serem tristes fins revelam-se,
depois, como os pontos de partida das nossas maiores aventuras? 

(José Luís Nunes Martins, in 'Filosofias - 79 Reflexões')

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