“Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura
do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame,
e plebeia sociabilização de mim, do Intersecionismo, reentrei
de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros,
na posse plena do meu Gênio e na divina consciência da minha
Missão.
Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja;
e meu Gênio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais
calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva
dos inferiores.
A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de
silêncio que se veste.
O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou
com isto.
Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e
infantil de «lançar o Intersecionismo» — a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez.
Nasci.”
(Fernando Pessoa, 'Páginas Íntimas e de Auto Interpretação')
Amigos, o texto é de Fernando Pessoa, mas bastante rico para
nossas reflexões e interpretações.
Vera Z Albuquerque
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