quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

NINGUÉM SE CONHECE A SI MESMO

“Julga que se conhece, se não se construir de algum modo?
E julga que eu posso conhecê-lo, se não o construir à minha maneira?
E julga que me pode conhecer, se não me construir à sua maneira?
Só podemos conhecer aquilo a que conseguimos dar forma.
Mas que conhecimento pode ser esse?
Não será essa forma a própria coisa?
Sim, tanto para mim como para si; mas não da mesma maneira para
mim e para si: isso é tão verdade que eu não me reconheço na forma
que você me dá, nem você se reconhece na forma que eu lhe dou;
e a mesma coisa não é igual para todos e mesmo para cada um de nós
pode mudar constantemente.
E, contudo, não há outra realidade fora desta, a não ser na forma
momentânea que conseguimos dar a nós mesmos, aos outros e às coisas.
A realidade que eu tenho para si está na forma que você me dá; mas
é realidade para si, não é para mim.
E, para mim mesmo, eu não tenho outra realidade senão na forma que
consigo dar a mim próprio.
Como?
Construindo-me, precisamente.” 

(Luigi Pirandello, in “Um, Ninguém e Cem Mil”) 
[Escritor/Dramaturgo, Itália 1867 // 1936]

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