quarta-feira, 6 de abril de 2016

NUNCA TIVEMOS UMA GERAÇÃO TÃO TRISTE

Augusto Cury, o famoso psiquiatra que tem livros publicados em mais
de 70 países e dá palestras para multidões no Brasil e lá fora, lançou
recentemente uma versão para crianças e adolescentes do seu
best-seller Ansiedade - Como Enfrentar o Mal do Século.


Excesso de estímulos
“Estamos assistindo ao assassinato coletivo da infância das crianças
e da juventude dos adolescentes no mundo todo. Nós alteramos o ritmo
de construção dos pensamentos por meio do excesso de estímulos,
sejam presentes a todo momento, seja acesso ilimitado a smartphones,
redes sociais, jogos de videogame ou excesso de TV. Eles estão
perdendo as habilidades sócio-emocionais mais importantes: se colocar
no lugar do outro, pensar antes de agir, expor e não impor as ideias,
aprender a arte de agradecer. É preciso ensiná-los a proteger a emoção
para que fiquem livres de transtornos psíquicos. Eles necessitam  
gerenciar os pensamentos para prevenir a ansiedade. Ter consciência
crítica e desenvolver a concentração. Aprender a não agir pela reação,
no esquema 'bateu, levou', e a desenvolver altruísmo e generosidade.”

Geração triste
“Nunca tivemos uma geração tão triste, tão depressiva. Precisamos
ensinar nossas crianças a fazerem pausas e contemplar o belo. Essa
geração precisa de muito para sentir prazer: viciamos nossos filhos
e alunos a receber muitos estímulos para sentir migalhas de prazer.
O resultado: são intolerantes e superficiais. O índice de suicídio tem
aumentado. A família precisa se lembrar de que o consumo não
faz ninguém feliz. Suplico aos pais: os adolescentes precisam ser
estimulados a se aventurar, a ter contato com a natureza, se encantar
com astronomia, com os estímulos lentos, estáveis e profundos da
natureza que não são rápidos como as redes sociais.”

Dor compartilhada
“É fundamental que as crianças aprendam a elaborar as experiências.
Por exemplo, diante de uma perda ou dificuldade, é necessário que
tenham uma assimilação profunda do que houve e aprender com aquilo.
Como ajudá-las nesse processo? Os pais precisam falar de suas lágrimas,
suas dificuldades, seus fracassos. Em vez disso, pai e mãe deixam os
filhos no tablet, no smartphone, e os colocam em escolas de tempo integral.
Pais que só dão produtos para os seus filhos, mas são incapazes de transmitir
sua história, transformam seres humanos em consumidores. É preciso sentar
e conversar: 'Filho, eu também fracassei, também passei por dores, também
fui rejeitado. Houve momentos em que chorei'. Quando os pais cruzam seu
mundo com os dos filhos, formam-se arquivos saudáveis poderosos em sua
mente, que eu chamo de janelas light: memórias capazes de levar crianças
e adolescentes a trabalhar dores perdas e frustrações.”

Intimidade
“Pais que não cruzam seu mundo com o dos filhos e só atuam como manuais
de regras estão aptos a lidar com máquinas. É preciso criar uma intimidade
real com os pequenos, uma empatia verdadeira. A família não pode só criticar
comportamentos, apontar falhas. A emoção deve ser transmitida na relação.
Os pais devem ser os melhores brinquedos dos seus filhos. A nutrição
emocional é importante mesmo que não se tenha tempo, o tempo precisa
ser qualitativo. Quinze minutos na semana podem valer por um ano. Pais
têm que ser mestres da vida dos filhos. As escolas também precisam mudar.
São muito cartesianas, ensinam raciocínio e pensamento lógico, mas se
esquecem das habilidades sócio emocionais.”

Mais brincadeira, menos informação
“Criança tem que ter infância. Precisa brincar, e não ficar com uma agenda
pré estabelecida o tempo todo, com aulas variadas. É importante que criem
brincadeiras, desenvolvendo a criatividade. Hoje, uma criança de sete anos
tem mais informação do que um imperador romano. São informações
desacompanhadas de conhecimento. Os pais podem e devem impor limites
ao tempo que os filhos passam em frente às telas. Sugiro duas horas por dia.
Se você não colocar limite, eles vão desenvolver uma emoção viciante,
precisando de cada vez mais para sentir cada vez menos: vão deixar de
refletir, se interiorizar, brincar e contemplar o belo.”

Parabéns!
“Em vez de apontar falhas, os pais devem promover os acertos. Todos
os dias, filhos e alunos têm pequenos acertos e atitudes inteligentes.
Pais que só criticam e educadores que só constrangem provocam timidez,
insegurança, dificuldade em empreender. Os educadores precisam ser
carismáticos, promover os seus educandos. Assim, o filho e o aluno vão
ter o prazer de receber o elogio. Isso não tem ocorrido. O ser humano
tem apontado comportamentos errados e não promovido características
saudáveis.”

Conselho final para os pais
“Vejo pais que reclamam de tudo e de todos, não sabem ouvir não, não
sabem trabalhar as perdas. São adultos, mas com idade emocional não
desenvolvida. Para atuar como verdadeiros mestres, pai e mãe precisam
estar equilibrados emocionalmente. Devem desligar o celular no fim de
semana e ser pais. Muitos são viciados em smartphones, não conseguem
se desconectar. Como vão ensinar os seus filhos e fazer pausas e
contemplar a vida? Se os adultos têm o que eu chamo de síndrome do
pensamento acelerado, que é viver sem conseguir aquietar a mente,
como vão ajudar seus filhos a diminuírem a ansiedade?”

Texto: Augusto Cury

[Portal Raízes]
(http://www.raizesjornalismocultural.com)

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