"Aos sonhos, como aos pesadelos, chega sempre a hora de acordar.
É essencial compreender a realidade, viver de olhos abertos, acolher
a simplicidade da vida antes de querer resolver a complexidade do
mundo.
Cada um de nós tem o seu lugar no mundo, talvez a ninguém caiba
o do centro.
Nas nossas relações com o mundo, com os outros e conosco, é mais
sábio aceitar do que impor, admirar do que exibir, amar do que
procurar ser amado...
Viver é aprender a ceder.
A libertarmo-nos de nós mesmos.
Só o nosso espírito nos pode soltar porque só ele nos aprisiona.
Ser autenticamente feliz depende de uma transformação na forma
de olharmos o mundo, aceitando-o sem grandes condições e agindo
sem precipitações.
Cedendo. Cedendo, sempre.
Pois que é melhor manter um amigo do que ficar com a razão, mas
sozinho.
Há que abrir espaços em nós para que a serenidade que assim se
alcança convide a felicidade a fazer do nosso espírito morada sua.
A humildade e a simplicidade são formas de ser, não de parecer.
Um erro comum é querer ser tudo já.
Nunca nada chega... e são tantas vezes as saudades a revelarem-nos
o verdadeiro valor dos instantes vividos mas já passados.
As pressas atropelam o tempo.
Importa não cair na tentação de querer ser senhor do próprio futuro...
e aprender a confiar mais. Cedendo espaço à esperança.
Afinal, quantas vezes uma tragédia, decepção, desilusão ou uma
simples despedida, ao invés de serem tristes fins revelam-se, depois,
como os pontos de partida das nossas maiores aventuras?"
(José Luís Nunes Martins, in 'Filosofias - 79 Reflexões')
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