quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O PODER DAS PALAVRAS

“A humanidade entrará no terceiro milênio sob o império das
palavras. Não é verdade que a imagem esteja a suplantá-las nem
que possa extingui-las.
Pelo contrário, está a potenciá-las: nunca houve no mundo tantas
palavras com tanto alcance, autoridade e arbítrio como na imensa
Babel da vida atual. Palavras inventadas, maltratadas ou sacralizadas
pela imprensa, pelos livros descartáveis, pelos cartazes de publicidade;
faladas e cantadas pela rádio, pela televisão, pelo cinema, pelo telefone,
pelos altifalantes públicos: gritadas à brocha nas paredes da rua ou
sussurradas ao ouvido nas penumbras do amor.
Não: o grande derrotado é o silêncio.
As coisas têm agora tantos nomes em tantas línguas que já não é fácil
saber como se chamam em nenhuma.
Os idiomas dispersam-se à rédea solta, misturam-se e confundem-se,
desembestados rumo ao destino inelutável de uma língua global.” 

(Gabriel García Marquez, in 'Eu não Venho Fazer um Discurso')
[Escritor/Jornalista [Nobel 1982], Colômbia, 6 Mar 1927//17 Abr 2014]

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