domingo, 11 de dezembro de 2016

A TRISTEZA PERMITIDA

“Ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto
a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha
em grupo, ora busca o silêncio e a solidão.
Estar triste não é estar deprimido. 
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa.
Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com
alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco
cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia
qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania
de serem discretas. 
Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato.
Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la,
sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de
existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas
o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado
demais.
Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius),
mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for.
Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se
permite estar alguns degraus abaixo da euforia. 
Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de
força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre
volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a
próxima, normais que somos.”

(Martha Medeiros)
[Jornalista/Escritora, Brasil, n. 20 Ago 1961]

Nenhum comentário:

Postar um comentário