sexta-feira, 20 de julho de 2012

O MUNDO

Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu
subir ao céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado,
lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
– O mundo é isso – revelou. –
Um montão de gente,um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras.
Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e
fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores.
Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo
louco, que enche o ar de chispas.
Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros
incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para
eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.

Tratar a memória como coisa viva, bicho inquieto:
assim faz Eduardo Galeano quando escreve.
Sua memória pessoal e a nossa memória coletiva, da América.
Quando escreve, ele mostra que a história pode – e deve – ser
contada a partir de pequenos momentos, aqueles que sacodem
a alma da gente sem a grandiloqüência dos heroísmos de gelo,
mas com a grandeza da vida.


LIVRO DOS ABRAÇOS, O
EL LIBRO DE LOS ABRAZOS
Eduardo Galeano (jornalista e escritor uruguaio)
Tradução de Eric Nepomuceno

Nenhum comentário:

Postar um comentário