domingo, 28 de junho de 2015

NASCER EM NÓS

"Depositamos pouca fé em nós mesmos.
Acreditamos que as boas soluções só podem chegar-nos de fora,
como se fossemos incapazes de as criar...
Quantas vezes a fé e a esperança aparecem como uma desculpa
confortável em que nos instalamos e desistimos de trabalhar!?
Queremos muito que tudo mude (para melhor), de uma vez só, com
uma só chave milagrosa e... enquanto estamos a dormir. 
Outro é o desafio da existência humana. Para além de saber esperar,
é preciso lutar e sofrer. Esperar não é ficar à espera, mas encontrar
forma para que as coisas aconteçam.
O melhor do mundo está no fundo de nós, mas é preciso que o
façamos nascer e crescer... 
As soluções estão, na maior parte dos casos, no seio dos problemas,
quase sempre no exato ponto onde eles nasceram.
Os problemas não são becos sem saída, mas muros a transpor: não
são algo acabado, mas sim processos... não são quês, são comos. 
Deus pode nascer em nós, não vem de fora, como um forasteiro.
É connosco. É-nos íntimo. São as nossas mãos que o encarnam...
é pela nossa vida que Ele quer chegar ao mundo. 
Há muitos que o querem no alto, longe dos seus dias... não aceitam
esta forma de se expor. Esperam um outro Deus menos vulgar e mais
majestoso... um Deus que trate de tudo sozinho e que não dependa
da nossa vontade, nem, muito menos, do nosso esforço. 
Cabe-nos ser a terra fértil onde as sementes, que também somos,
possam crescer e frutificar.
Abrirmos a nossa vida a este Deus que quer nascer... em nós e,
através de nós, chegar ao nosso próximo... 
A felicidade é fruto do nosso ventre, do amor que construímos,
da alegria que fazemos nascer..."

(José Luís Nunes Martins, in 'Amor, Silêncios e Tempestades')
[Filósofo, Portugal, n. 14 Mar 1971]

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