quarta-feira, 3 de junho de 2015

O PODER DAS PALAVRAS

“A humanidade entrará no terceiro milênio sob o império das palavras.
Não é verdade que a imagem esteja a suplantá-las nem que possa extingui-las.
Pelo contrário, está a potenciá-las: nunca houve no mundo tantas palavras
com tanto alcance, autoridade e arbítrio como na imensa Babel da vida atual.
Palavras inventadas, maltratadas ou sacralizadas pela imprensa, pelos livros
descartáveis, pelos cartazes de publicidade; faladas e cantadas pela rádio,
pela televisão, pelo cinema, pelo telefone, pelos altifalantes públicos: gritadas à
brocha nas paredes da rua ou sussurradas ao ouvido nas penumbras do amor.
Não: o grande derrotado é o silêncio. As coisas têm agora tantos nomes em
tantas línguas que já não é fácil saber como se chamam em nenhuma.
Os idiomas dispersam-se à rédea solta, misturam-se e confundem-se,
desembestados rumo ao destino inelutável de uma língua global.” 

(Gabriel García Marquez, in 'Eu não Venho Fazer um Discurso')
Escritor/Jornalista [Nobel 1982], Colômbia, 6 Mar 1927 // 17 Abr 2014

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